Quando falamos em megaprojetos de capital – sejam refinarias, minerodutos, plataformas offshore ou grandes plantas industriais – o sucesso raramente depende apenas da engenharia ou da execução em campo. O que de fato diferencia projetos bem-sucedidos é a forma como o escopo é definido e como a estratégia de execução é estruturada desde o início.
De acordo com as práticas recomendadas pela AACE International, o desenvolvimento do escopo e da estratégia de execução é a base de todo o planejamento de controle do projeto. Na prática, esse processo responde a duas perguntas fundamentais:
Como será feito? – escolha da estratégia de execução.
O que será feito? – definição clara do escopo do projeto.
Escopo: Definir para Controlar
O escopo não é apenas uma lista de entregas técnicas; é a tradução dos objetivos, restrições e premissas do negócio em trabalho controlável. Para isso, utiliza-se a Work Breakdown Structure (WBS) ou Estrutura Analítica de Projeto (EAP), que decompõe o ativo em partes gerenciáveis, até chegar a pacotes de trabalho claros e mensuráveis.
Em megaprojetos, essa decomposição é essencial para evitar ambiguidades. Já vi casos em que a ausência de clareza no escopo inicial gerou disputas contratuais milionárias e atrasos de meses. Uma boa EAP funciona como o “DNA” do projeto: conecta requisitos de negócio às atividades de campo.
Estratégia de Execução: Mais que Cronogramas
Se o escopo define o que será feito, a estratégia de execução define como. Ela envolve decisões sobre:
- Modelo de contratação (EPC, EPCM, pacotes múltiplos, alianças etc.);
- Organização do time do projeto (estrutura matricial, divisões de responsabilidades via OBS – Organization Breakdown Structure);
- Abordagens construtivas (modularização, pré-fabricação, logística integrada);
- Sequenciamento macro de fases (engenharia, suprimentos, construção, comissionamento).
Em outras palavras, a estratégia de execução não é um cronograma detalhado, mas sim o conjunto de critérios e diretrizes que guiarão as decisões futuras. É como escolher o “caminho da obra” antes de iniciar a jornada.
Iteratividade e Alinhamento
Esse processo não é linear: o escopo e a estratégia são desenvolvidos de forma progressiva e iterativa. A cada fase do projeto (FEL 1, 2, 3, por exemplo), os elementos são revisitados, refinados e realinhados com os objetivos estratégicos da empresa.
Esse ciclo contínuo garante que o projeto se mantenha coerente com o business case. E quando ocorrem mudanças – inevitáveis em megaprojetos – o escopo e a estratégia precisam ser reavaliados formalmente, integrando o processo de gestão de mudanças.
Ferramentas e Boas Práticas
Entre as boas práticas aplicadas em megaprojetos estão:
- Workshops de alinhamento no início de cada fase, garantindo que engenharia, suprimentos, construção e operação tenham a mesma visão;
- Integração precoce de fornecedores estratégicos, para testar a viabilidade da estratégia antes da contratação;
- Uso de benchmarks de projetos similares para validar premissas de custo, prazo e produtividade;
- Padronização de WBS e OBS para acelerar a definição e reduzir riscos de omissões.
Conclusão
Definir escopo e estratégia de execução não é apenas burocracia de planejamento – é o alicerce sobre o qual se constrói todo o controle de prazos, custos, riscos e recursos do projeto.
Em megaprojetos de capital, onde os investimentos ultrapassam bilhões de dólares, um erro nessa etapa pode comprometer o retorno esperado por décadas.
A AACE International nos lembra que o sucesso do projeto começa muito antes da primeira pá de concreto ou da primeira linha de tubo. Ele nasce na clareza do que será feito e na inteligência de como faremos.
